Katerinne
Quando o dia amanheceu eu não tinha dormido, meus olhos estavam inchados e vermelhos. Quando titia bateu na porta eu me recusei à abrir veementemente. Não queria descer para o café da manhã com essa imagem de derrota. Nunca mais queria vê- lo!
Quando o dia amanheceu eu não tinha dormido, meus olhos estavam inchados e vermelhos. Quando titia bateu na porta eu me recusei à abrir veementemente. Não queria descer para o café da manhã com essa imagem de derrota. Nunca mais queria vê- lo!
Levantei da cama com um nó estrangulando minha garganta, que insistia em permanecer ali não importando o quanto eu o engolisse.
Olhei no espelho da penteadeira e me assustei com a minha aparência, e decidi por fim, que iria encará- lo de frente, não daria o braço à torcer nem que o ciúme me matasse por dentro.
E nunca diria uma palavra sobre o assunto, e queria vê-lo, sim, não importa o que disse antes, vê-lo era tudo para mim, estar com ele por poucas horas diariamente era uma imensa felicidade e eu não iria me privar disso.
Olhei no espelho da penteadeira e me assustei com a minha aparência, e decidi por fim, que iria encará- lo de frente, não daria o braço à torcer nem que o ciúme me matasse por dentro.
E nunca diria uma palavra sobre o assunto, e queria vê-lo, sim, não importa o que disse antes, vê-lo era tudo para mim, estar com ele por poucas horas diariamente era uma imensa felicidade e eu não iria me privar disso.
Eu aproveitaria cada segundo da sua companhia, afinal não sabíamos quanto tempo ele demoraria para tornar oficial seu noivado, porquê nenhuma mulher recusaria um duque. Qualquer duque talvez, mas não esse modelo de perfeição divina. Will tinha tudo o que uma mulher poderia sonhar, riqueza e beleza e acima de tudo o poder. Poderia transformar o mais lindo sonho em realidade em um estalar de dedos, não havia nesse mundo quem ou o que não pudesse ser comprado com a quantia certa.
Dei um longo suspiro imaginando quem era a afortunada, aquela que foi capaz de entrar no coração do duque, titia disse que ele nunca amou nenhuma, teve muitas, sim, mas nenhuma que lhe alcançasse á alma. Nenhuma lhe tirou o apetite ou o deixou tão arrebatado. Tia Dóris temia que seria a primeira e única paixão de Willian. E eu temi que não houvesse lugar para mim nessa sua nova vida.
Tirei a camisola e me banhei na água fria da bacia. Quando finalmente estava pronta e desci, titia Dóris me disse que ele havia deixado a mansão antes de amanhecer e que não sabia quando o duque voltaria. Eu entrei numa tristeza sem fim, não sabia o que fazer para o tempo passar mais rápido. Nadei com as garotas no clube, fiz horas de aulas de bordado que eu detesto, apostei corridas de cavalo com meu garanhão puro-sangue árabe, presente do meu amado duque. E os dias passavam à passo de tartaruga. Algumas das garotas do clube achavam que eu havia enlouquecido, e quando Cádmo torceu uma pata em uma dessas corridas, eu entrei em desespero, fui levada às pressas à mansão pelo cavalariço Charles e pela criada que me acompanhava em todos os passeios quando titia não podia me acompanhar.
Titia Dóris chorava e gritava, achava que eu havia sido brutalizada por algum bandido que rondava o clube procurando uma dama desprotegida como eu. Eu não conseguia falar, apenas chorava e apontava para fora, na esperança que socorressem o pobre Cádmo e curassem sua pata.
--O que eu fiz? Ele deve estar sofrendo muitíssimo... Na minha dor e loucura... eu não queria machucá-lo, não de propósito, por favor...
--Por favor o médico, ai meu Deus Santíssimo, o que dirá Will? Que não sirvo para... o médico Charles, corra e o traga até aqui... Titia saiu gritando coisas ininteligíveis aos empregados e eu sequer ouvi ou entendi algo.
Ninguém me dava ouvidos ali estirada no chão, com a roupa amarrotada, cabelos cheios de sujeira e chorando descontroladamente, parecia uma visão de um hospício, e acho que eu estava mesmo enlouquecendo!
Passaram-se mais três semanas do ocorrido no clube e nenhuma notícia relacionada ao duque chegou até nós. Fui mandada à cama, de repouso absoluto, nada de idas ao clube, ou nada do tipo, percebi a cara feia do médico quando soube que o acidente se dera por causa das corridas de cavalo. Quando eu me acalmei um pouco eu pude explicar que quem se ferira foi Cádmo e não eu, então mandaram chamar o melhor tratador de cavalos do ducado para atendê-lo e só então deixei ser cuidada também. O médico saiu dizendo a mesma coisa que Will me disse quando escolhi esse nome para o potro árabe quando o ganhei de presente à três meses. --É um nome grego para um cavalo árabe? E riu uma gargalhada que me aqueceu até a alma. Eu então o expliquei que ele era um imigrante e como tal poderia se chamar do que quisesse. E ele riu mais ainda, até vir lágrimas aos olhos, e eu ri junto, até a barriga doer... Só que agora não tinha graça nenhuma. Titia me disse que havia mandado chamar o duque às pressas, que ela temia que eu tentasse algo estúpido e que, dessa vez eu poderia quebrar o pescoço.
Meu coração doía e a cada carruagem que chegava eu pulava de alegria, só para saber que eram as carruagens dos correios ou o coche do leiteiro. Ficar sem ele, era morrer um pouco a cada dia.
William
Ter decidido viajar tão repentinamente foi a melhor decisão. Já não podia confiar em minha própria sanidade por perto de Kat. Estava prestes à fazer alguma loucura. Ficar longe de casa e longe dela era quase impossível. Eu não comia e nem bebia, tudo o que eu fazia era lembrar daqueles olhos verdes e faiscantes me observando.
Na verdade eu estava tão perto, não tinha saído da Inglaterra, mas não sabia o que deveria fazer, não estava tratando de negócios, estava fugindo, como um covarde.
Mas voltaria, é claro. Tinha obrigações na câmara dos lordes e já ficara fora tempo demais. Fui à todos os clubes da região, óperas, saraus, palestras e apresentações de danças e afins. Quando terminou o último ato de Romeu e Julieta eu estava tão perturbado que via Kat desfalecida no chão no lugar da atriz que interpretava Julieta.
Ter decidido viajar tão repentinamente foi a melhor decisão. Já não podia confiar em minha própria sanidade por perto de Kat. Estava prestes à fazer alguma loucura. Ficar longe de casa e longe dela era quase impossível. Eu não comia e nem bebia, tudo o que eu fazia era lembrar daqueles olhos verdes e faiscantes me observando.
Na verdade eu estava tão perto, não tinha saído da Inglaterra, mas não sabia o que deveria fazer, não estava tratando de negócios, estava fugindo, como um covarde.
Mas voltaria, é claro. Tinha obrigações na câmara dos lordes e já ficara fora tempo demais. Fui à todos os clubes da região, óperas, saraus, palestras e apresentações de danças e afins. Quando terminou o último ato de Romeu e Julieta eu estava tão perturbado que via Kat desfalecida no chão no lugar da atriz que interpretava Julieta.
Voltei para o hotel em que estava hospedado bêbado demais para raciocinar, de carruagem alugada e em farrapos, não sabia onde tinha perdido minha cartola ou meu casaco. Thomas esperava com uma cara de preocupação que me deu remorso.
--Milorde, até que enfim! Meu Deus, foi assaltado? Devo chamar a guarda? Chegou uma carta de Lady Dóris, o senhor deve voltar imediatamente...
Eu não ouvia as palavras direito, meus olhos se fecharam contra minha vontade assim que caí na cama.
Acordei pela manhã com um Thomas andando nervosamente pelo quarto. Ele me olhava por cima de seus óculos e nunca na vida o vi tão preocupado dessa maneira. Ele era meu advogado e amigo mais fiel desde que herdei o ducado e seu pai serviu ao meu muito tempo antes, lealdade era seu sobrenome.
--Que inferno Thomas, minha cabeça lateja, seja o que for pode esperar pelo menos minha cabeça parar de girar? Levantei cambaleando até o banheiro adjacente e me olhei no espelho, olhos vermelhos com olheiras horríveis me fitaram de volta, cabelos sujos e embaraçados, roupas sujas e amarrotadas, não lembravam em nada o duque de York. Lavei meu rosto na água fria da bacia e sequei o rosto, e lentamente as memórias foram voltando.
--O que aconteceu? Diga de uma vez! Ele me olhou pasmo, riu e passou as mãos pelo cabelos.
--O senhor sumiu à três dias, eu o procurei em toda parte, para te encontrar naquele antro... O senhor gastou dinheiro com aquela... atriz, todo o dinheiro da viagem...-- Ele cuspiu as palavras e foi ficando vermelho, parecia que teria uma síncope.
--Acalme-se e me diga qual é o problema de verdade, sente-se aqui --Puxei a cadeira da penteadeira para que ele se sentasse enquanto eu mesmo sentava na beirada da cama. Quando ele se sentou sua cor foi lentamente voltando ao normal enquanto ele respirava profundamente várias vezes. Eu pude perceber a preocupação genuína em seu rosto e me senti culpado de verdade.
--Desculpe Thomas, eu não sei o que está acontecendo comigo, eu... --Lágrimas vieram contra a minha vontade até meus olhos, eu pigarreei e limpei-as com a costa da mão, era uma frustração e uma vergonha... Ainda me restava um pouco de amor próprio, não choraria na frente dele ou de qualquer outro. Ele sorriu e depois me olhou nos olhos com uma pergunta muda estampada neles.
--Aconteceu não foi? Meu Deus, você está apaixonado Will, me diga que... não, não, não! É a senhorita... lady Kat?-- Ele me olhou de boca aberta por um tempo e depois riu da minha desgraça.
--Não se atreva, eu não, ela... Sim eu sei, você está certo eu não... O que eu posso fazer? --Eu disse me jogando de bruços na cama, derrotado.
Thomas me olhava e andava em círculos pelo quarto, me dava náuseas continuar olhando para ele.
--Pare de andar pelo quarto desse jeito, que inferno, está me deixando cada vez mais nervoso!--
Ele me olhou e se sentou na beirada da cama de costas para mim. --Tenho algumas notícias para você meu amigo; --Ele me olhou tão sério que me deu calafrios. Eu o encarei sentando na cama ao lado dele.
--Você foi roubado pela última prostituta que você trouxe para cá, lá se foi seu relógio, sua cartola e seu casaco, sua carteira com todo o dinheiro também... Mas isso não importa agora, eu... --Ele tirou uma carta amassada do bolso e a estendeu à mim. Eu peguei com dedos trêmulos.
--Parece que você não é o único dado à loucuras, e nem o único apaixonado aqui...-- Ele riu ruidosamente e me apertou os ombros.
--Parabéns Will, você merece meu amigo, case-se logo e nos poupe de mais escândalos.
Eu sem entender nada abri a carta de Tia Dóris e a li três vezes e sorri, como a muito tempo não sorria! Vá até o banco Thomas e arranje algum dinheiro, estamos voltando pra casa... e me compre algo apresentável para vestir.
Continua...