Sejam bem vindos ao meu blog!

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sexta-feira, 26 de maio de 2017

Nova História (capítulo 2)

Katerinne
Quando o dia amanheceu eu não tinha dormido, meus olhos estavam inchados e vermelhos. Quando titia bateu na porta eu me recusei à abrir veementemente. Não queria descer para o café da manhã com essa imagem de derrota. Nunca mais queria vê- lo! 
Levantei da cama com um nó estrangulando minha garganta, que insistia em permanecer ali não importando o quanto eu o engolisse.
Olhei no espelho da penteadeira e me assustei com a minha aparência, e decidi por fim, que iria encará- lo de frente, não daria o braço à torcer nem que o ciúme me matasse por dentro.
E nunca diria uma palavra sobre o assunto, e queria vê-lo, sim, não importa o que disse antes, vê-lo era tudo para mim, estar com ele por poucas horas diariamente era uma imensa felicidade e eu não iria me privar disso. 
Eu aproveitaria cada segundo da sua companhia, afinal não sabíamos quanto tempo ele demoraria para tornar oficial seu noivado, porquê nenhuma mulher recusaria um duque. Qualquer duque talvez, mas não esse modelo de perfeição divina. Will tinha tudo o que uma mulher poderia sonhar, riqueza e beleza e acima de tudo o poder. Poderia transformar o mais lindo sonho em realidade em um estalar de dedos, não havia nesse mundo quem ou o que não pudesse ser comprado com a quantia certa.
 
Dei um longo suspiro imaginando quem era a afortunada, aquela que foi capaz de entrar no coração do duque, titia disse que ele nunca amou nenhuma, teve muitas, sim, mas nenhuma que lhe alcançasse á alma. Nenhuma lhe tirou o apetite ou o deixou tão arrebatado. Tia Dóris temia que seria a primeira e única paixão de Willian. E eu temi que não houvesse lugar para mim nessa sua nova vida. 

Tirei a camisola e me banhei na água fria da bacia. Quando finalmente estava pronta e desci, titia Dóris me disse que ele havia deixado a mansão antes de amanhecer e que não sabia quando o duque voltaria. Eu entrei numa tristeza sem fim, não sabia o que fazer para o tempo passar mais rápido. Nadei com as garotas no clube, fiz horas de aulas de bordado que eu detesto, apostei corridas de cavalo com meu garanhão puro-sangue árabe, presente do meu amado duque. E os dias passavam à passo de tartaruga. Algumas das garotas do clube achavam que eu havia enlouquecido, e quando Cádmo torceu uma pata em uma dessas corridas, eu entrei em desespero, fui levada às pressas à mansão pelo cavalariço Charles e pela criada que me acompanhava em todos os passeios quando titia não podia me acompanhar.

Titia Dóris chorava e gritava, achava que eu havia sido brutalizada por algum bandido que rondava o clube procurando uma dama desprotegida como eu. Eu não conseguia falar, apenas chorava e apontava para fora, na esperança que socorressem o pobre Cádmo e curassem sua pata.
--O que eu fiz? Ele deve estar sofrendo muitíssimo... Na minha dor e loucura... eu não queria machucá-lo, não de propósito, por favor...
--Por favor o médico, ai meu Deus Santíssimo, o que dirá Will? Que não sirvo para... o médico Charles, corra e o traga até aqui... Titia saiu gritando coisas ininteligíveis aos empregados e eu sequer ouvi ou entendi algo.
Ninguém me dava ouvidos ali estirada no chão, com a roupa amarrotada, cabelos cheios de sujeira e chorando descontroladamente, parecia uma visão de um hospício, e acho que eu estava mesmo enlouquecendo!

Passaram-se mais três semanas do ocorrido no clube e nenhuma notícia relacionada ao duque chegou até nós. Fui mandada à cama, de repouso absoluto, nada de idas ao clube, ou nada do tipo, percebi a cara feia do médico quando soube que o acidente se dera por causa das corridas de cavalo. Quando eu me acalmei um pouco eu pude explicar que quem se ferira foi Cádmo e não eu, então mandaram chamar o melhor tratador de cavalos do ducado para atendê-lo e só então deixei ser cuidada também. O médico saiu dizendo a mesma coisa que Will me disse quando escolhi esse nome para o potro árabe quando o ganhei de presente à três meses. --É um nome grego para um cavalo árabe? E riu uma gargalhada que me aqueceu até a alma. Eu então o expliquei que ele era um imigrante e como tal poderia se chamar do que quisesse. E ele riu mais ainda, até vir lágrimas aos olhos, e eu ri junto, até a barriga doer... Só que agora não tinha graça nenhuma. Titia me disse que havia mandado chamar o duque às pressas, que ela temia que eu tentasse algo estúpido e que, dessa vez eu poderia quebrar o pescoço.
Meu coração doía e a cada carruagem que chegava eu pulava de alegria, só para saber que eram as carruagens dos correios ou o coche do leiteiro. Ficar sem ele, era morrer um pouco a cada dia.


William
Ter decidido viajar tão repentinamente foi a melhor decisão. Já não podia confiar em minha própria sanidade por perto de Kat. Estava prestes à fazer alguma loucura. Ficar longe de casa e longe dela era quase impossível. Eu não comia e nem bebia, tudo o que eu fazia era lembrar daqueles olhos verdes e faiscantes me observando.
Na verdade eu estava tão perto, não tinha saído da Inglaterra, mas não sabia o que deveria fazer, não estava tratando de negócios, estava fugindo, como um covarde.
Mas voltaria, é claro. Tinha obrigações na câmara dos lordes e já ficara fora tempo demais. Fui à todos os clubes da região, óperas, saraus, palestras e apresentações de danças e afins. Quando terminou o último ato de Romeu e Julieta eu estava tão perturbado que via Kat desfalecida no chão no lugar da atriz que interpretava Julieta. 
Voltei para o hotel em que estava hospedado bêbado demais para raciocinar, de carruagem alugada e em farrapos, não sabia onde tinha perdido minha cartola ou meu casaco. Thomas esperava com uma cara de preocupação que me deu remorso. 
--Milorde, até que enfim! Meu Deus, foi assaltado? Devo chamar a guarda? Chegou uma carta de Lady Dóris, o senhor deve voltar imediatamente...
Eu não ouvia as palavras direito, meus olhos se fecharam contra minha vontade assim que caí na cama.

Acordei pela manhã com um Thomas andando nervosamente pelo quarto. Ele me olhava por cima de seus óculos e nunca na vida o vi tão preocupado dessa maneira. Ele era meu advogado e amigo mais fiel desde que herdei o ducado e seu pai serviu ao meu muito tempo antes, lealdade era seu sobrenome.
--Que inferno Thomas, minha cabeça lateja, seja o que for pode esperar pelo menos minha cabeça parar de girar? Levantei cambaleando até o banheiro adjacente e me olhei no espelho, olhos vermelhos com olheiras horríveis me fitaram de volta, cabelos sujos e embaraçados, roupas sujas e amarrotadas, não lembravam em nada o duque de York. Lavei meu rosto na água fria da bacia e sequei o rosto, e lentamente as memórias foram voltando.

--O que aconteceu? Diga de uma vez! Ele me olhou pasmo, riu e passou as mãos pelo cabelos.
--O senhor sumiu à três dias, eu o procurei em toda parte, para te encontrar naquele antro... O senhor gastou dinheiro com aquela... atriz, todo o dinheiro da viagem...-- Ele cuspiu as palavras e foi ficando vermelho, parecia que teria uma síncope. 
--Acalme-se e me diga qual é o problema de verdade, sente-se aqui --Puxei a cadeira da penteadeira para que ele se sentasse enquanto eu mesmo sentava na beirada da cama. Quando ele se sentou sua cor foi lentamente voltando ao normal enquanto ele respirava profundamente várias vezes. Eu pude perceber a preocupação genuína em seu rosto e me senti culpado de verdade.

--Desculpe Thomas, eu não sei o que está acontecendo comigo, eu... --Lágrimas vieram contra a minha vontade até meus olhos, eu pigarreei e limpei-as com a costa da mão, era uma frustração e uma vergonha... Ainda me restava um pouco de amor próprio, não choraria na frente dele ou de qualquer outro. Ele sorriu e depois me olhou nos olhos com uma pergunta muda estampada neles. 
--Aconteceu não foi? Meu Deus, você está apaixonado Will, me diga que... não, não, não! É a senhorita... lady Kat?-- Ele me olhou de boca aberta por um tempo e depois riu da minha desgraça.
--Não se atreva, eu não, ela... Sim eu sei, você está certo eu não... O que eu posso fazer? --Eu disse me jogando de bruços na cama, derrotado.

Thomas me olhava e andava em círculos pelo quarto, me dava náuseas continuar olhando para ele. 
--Pare de andar pelo quarto desse jeito, que inferno, está me deixando cada vez mais nervoso!--
Ele me olhou e se sentou na beirada da cama de costas para mim. --Tenho algumas notícias para você meu amigo; --Ele me olhou tão sério que me deu calafrios. Eu o encarei sentando na cama ao lado dele. 
--Você foi roubado pela última prostituta que você trouxe para cá, lá se foi seu relógio, sua cartola e seu casaco, sua carteira com todo o dinheiro também... Mas isso não importa agora, eu... --Ele tirou uma carta amassada do bolso e a estendeu à mim. Eu peguei com dedos trêmulos.
--Parece que você não é o único dado à loucuras, e nem o único apaixonado aqui...-- Ele riu ruidosamente e me apertou os ombros. 
--Parabéns Will, você merece meu amigo, case-se logo e nos poupe de mais escândalos.

Eu sem entender nada abri a carta de Tia Dóris e a li três vezes e sorri, como a muito tempo não sorria! Vá até o banco Thomas e arranje algum dinheiro, estamos voltando pra casa... e me compre algo apresentável para vestir. 

Continua...

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Nova história

(Willian)
De onde eu estava, na varanda do primeiro andar eu podia facilmente vê-la correr pelos jardins. Ela estava muito feliz nessa manhã, sorria tão facilmente e tão espontaneamente que meu coração falhou uma batida. Foi uma ótima idéia de minha tia convidar suas amigas para o café da manhã na mansão, estava feliz por ter permitido. Vê-la sorrir era meu mais novo passatempo favorito, porquê não era um sorriso falso ou forçado, era um sorriso que aquecia do meu coração à ponta dos meus pés. Ela usava um vestido rosado, com ricos detalhes bordados em ouro, um presente meu, o qual só valorizava seus lindos cabelos longos e castanhos que contrastavam lindamente com sua pele branca e aveludada. Seu rosto em forma de coração, assim como seus lábios estavam cheios e rosados, corados pelo exercício. O pequeno nariz levemente arrebitado dava um ar arrogante e jovem ao seu belo rosto. Elas corriam e brincavam de pegar umas às outras. Seus cabelos esvoaçavam soltos, lindamente desalinhados, a fita de cetim que antes amarrava seus cabelos no alto da cabeça agora balançava enroscada no arbusto esquecida. De vez em quando ela me olhava, talvez pensando que o barulho podia me atrapalhar ou até me aborrecer.
Dei uma olhada no jornal que estava ao lado da bandeja intocada de café da manhã e desisti de lê-lo. Meu desjejum foi servido no quarto, não era de bom tom que o duque comesse com dez ou doze garotas sem que elas estivessem acompanhadas de familiares de idade e posição similares ao do duque. Fiquei feliz por não ter que comer e responder perguntas sobre moda, rendas e sapatos, afinal todas as garotas da idade dela eram frívolas e superficiais, treinadas apenas para lidar com questões sem maiores importância, sem muito interesse à coisas e pessoas que realmente valiam a pena. Muitas não sabem nem o que acontece no quarto entre marido e mulher, uma lástima! 
A verdade era que não conseguia me concentrar desde que me tornei guardião da filha de Ethan. O trabalho se acumulava e eu não conseguia raciocinar. Os livros com a contabilidade das propriedades costumavam me prender por horas, agora mal consigo folhear algumas páginas. Eu não tinha idéia do quanto estava solitário até trazê-la para casa, foi tão assustador no início, mas se tornou a única alegria dos meus dias enfadonhos e repetitivos, ela trouxe vida e luz aos corredores vazios e frios da mansão. 
Eu odiei meu melhor amigo por morrer, e depois o odiei ainda mais por deixar sua filha sobre minha proteção. O que eu entendo de crianças? Nada! E entendo muito menos de jovens damas na idade de debutar e arranjar um marido! Senti os nós dos dedos doerem e então me dei conta que segurava a xícara de café com força demais, estava tenso o tempo todo agora. Soltei a xícara com um baque que quase se partiu em duas sobre a mesa de mogno. Lembrei de quando fui buscá-la no colégio interno e descobri que não se tratava de uma criança e sim de uma linda jovem! Não sabia o que fazer e fiquei protelando por meses, alegando problemas nos negócios, e quando não havia mais desculpas eu fui cumprir minha promessa de buscá-la e protegê-la, pude sentir sua alegria e alívio ao deixar aquele lugar. E quando a vi pela primeira vez não sabia que quem precisaria de proteção seria eu! 
Ela é uma doce garota obediente e muito comportada como toda jovem dama bem nascida da alta sociedade deve ser, mas sem perder sua própria personalidade. O seu encanto principal, fora a beleza e caráter impecáveis é, sem dúvida nenhuma, sua espontaneidade e sinceridade, daquele tipo de franqueza que não mente só para agradar alguém. E sobretudo, não gosta só de "coisas de damas" como ela mesma diz. Ela ama jogar pôquer, apostar corridas de cavalo com ela mesma sobre o lombo do animal e muitas coisas que são proibidas às mulheres pelas convenções machistas da sociedade inglesa. Pensei em proibir seus jogos e diversões tipicamente masculinas, mas ela pareceu tão triste que voltei atrás quando ela me prometeu nunca comprometer sua reputação com tais brincadeiras.
Os dias transcorriam velozes, com a rotina diária sempre quebrada por uma visita de um potencial pretendente à sua mão ou mais jovens damas ricas querendo conhecer a mais nova protegida do duque de York. Era uma infinidade de coisas a serem feitas, compradas ou preparadas por ter uma jovem dama em casa. Até convidar minha tia solteira e chata para morar conosco não pareceu de todo ruim, tudo se tornara melhor e mais feliz com sua presença. A presença de minha tia foi absolutamente necessária, é claro, segundo as regras da sociedade, afinal uma dama solteira não morava com um homem também solteiro sozinhos na mesma casa sem uma mulher de respeito morando na mesma casa para guardar a reputação da jovem. Era uma nova rotina que eu estava tão acostumado que não suportaria vê-la voltar ao estilo antigo, dos meus dias de solidão. 
Tinha certeza que esse dia chegaria depressa, o dia que ela me deixaria para seguir sua vida com seu marido em sua própria casa. Mas eu não estava preparado para isso, e acho que nunca estarei!
Levantei da mesa e andei dois passos até a grade de proteção da sacada e olhei para as garotas que brincavam com ela e percebi que nenhuma delas se comparava à ela, eram todas da mesma idade, nenhuma tinha mais de dezessete anos, mas eram insípidas demais, com movimentos ensaiados e modos afetados, nenhuma se destacava como ela. Eu sabia que muitas estavam ali não só pela amizade, mas influenciadas por seus espertos pais casamenteiros na esperança de fisgar o duque nos laços matrimoniais. É óbvio que me casarei um dia, afinal ainda preciso de um herdeiro, mas não sei se serei capaz de encontrar alguém que me tire o sono dessa maneira como ela faz, que me faça passar noites em claro sonhando acordado com lábios parecendo fruta madura prontos para serem mordidos.
Senti o sangue correndo rápido nas veias e respirei fundo várias vezes para aplacar a chama do desejo, isso nunca iria acontecer! De todas ela é a única proibida para mim. Sou eu quem deve protegê-la de pensamentos como esse, eu devo ser o cavalheiro e não o lobo atrás da porta. Afinal um duque de minha posição não dorme com sua protegida e nem se casa com ela, a futura noiva deve ser de posição igual ou superior, não uma mera lady, filha de um mero barão. Meu amigo se reviraria no túmulo se soubesse o quanto quero estar com ela nua em meus braços. Respirei profundamente e pisquei os olhos mas de nada adiantou. A única imagem que me aparece em sonhos, tanto dormindo como acordado, é o rosto dessa linda jovem dama. Não importa quantas visitas eu faça à casa de madame Elise, nunca mais estive realmente satisfeito, nenhuma mulher, nem as mais experientes podem aplacar meu apetite descontrolado.
Devo ter feito algum barulho pois ela se afastou do grupo e deu alguns passos em minha direção e olhou para cima, com uma mão na fina cintura e outra sobre os olhos protegendo-os do sol de verão. Fechei os olhos por um instante e segurei com força na grade de proteção para não cair, porquê não precisava vê-los para saber o quão lindos aqueles olhos são. 
Olhei para ela e ela sorriu, e num ímpeto sorri de volta. Olhos verdes intensos da cor de esmeraldas me encararam com certa preocupação. Senti meu coração disparar loucamente e comecei a suar.
--O senhor está bem, meu querido duque? --Eu respirei fundo jogando o cabelo para trás.--Claro que sim querida, volte para suas amigas, Katerinne-- Respondi encarando-a alguns segundos com o coração aos saltos. Dei as costas encerrando o assunto e voltei para dentro do quarto.
O que eu faria agora? Não sou tão jovem e nem inexperiente para me apaixonar por mocinhas debutantes, mas era o que realmente tinha acontecido quer eu goste ou não. Eu estava perdido! 
Nos meus trinta e sete anos de vida eu nunca senti amor por nenhuma mulher, apenas a necessidade física que ansiava por ser satisfeita. Mas tudo era resolvido rapidamente no subúrbio da cidade. Eu pagava adiantado e muito bem, e em uma hora ou duas estava acabado como havia começado, sem muita conversa e sem nomes, apenas negócios. Mas agora nem Madame Elise e suas garotas me atraem mais, receio estar enlouquecendo.


(Katerinne)
Eu percebi que há algo errado com o duque, é claro! Ele estava radiante nessa manhã, vestido de negro dos pés à cabeça, apenas a gravata branca contrastava com todo o resto. Os cabelos na altura dos ombros esvoaçavam soltos na brisa da manhã com tons castanhos claros e brilhantes refletindo o sol. O rosto era sem dúvida nenhuma o mais bonito que já vi na vida, com malares altos, boca bonita e dentes perfeitos e brancos. Os olhos são tão lindos que me pego sonhando com eles quando durmo e acordada também, de um lindo e hipnótico tom de cinza, como um céu de tempestade. A barba por fazer era negra, como os cílios e sobrancelhas que emolduravam os olhos, realmente uma visão dos deuses. Ele ainda me encarou com um raro sorriso que fez meu coração saltar, tinha certeza se ele estivesse mais perto poderia ouvi-lo bater. Mas ele desviou o olhar cedo demais e entrou nos seus aposentos, era sempre assim quando nossa conversa ficava pessoal demais, eu não sei do que ele tem medo, mas é óbvio que tem medo de algo.

Eu me esforcei ao máximo para me adaptar à casa e à nova rotina fora da escola. Eu faria qualquer coisa para não voltar para aquele lugar esquecido por todos, lá era o lar dos rejeitados, órfãos como eu e filhas virgens que os pais queriam que permanecessem assim até o casamento. A surpresa maior for conhecê-lo sem dúvida, imaginar um duque velho e decrépito e conhecer um lindo aristocrata tinha sido demais para mim na ocasião. Meu coração bateu acelerado até muito depois de sua partida. 

Ele chegou na hora marcada, se apresentou e me avaliou de cima a baixo, não levou nem dez minutos e ele já partiu com uma promessa que voltaria para me levar para casa. Mas eu pude ver a surpresa em seu rosto, se era positiva ou negativamente nunca saberei dizer. Eu orei por dois meses para que ele voltasse e me levasse daquele lugar triste e quando ele voltou foi o dia mais feliz da minha vida, eu nunca tinha saído daquela escola e era maravilhoso ver um pequeno pedaço do mundo através da janela da carruagem.

Na mansão do duque eu fiquei sabendo de sua rotina cansativa de trabalho, vários dias da semana na câmara dos lordes, os outros dias eram gastos com verificações de livros de contabilidades e propriedades por todo o país. Uma vida dura e sem muito tempo para gastar com qualquer pessoa que fosse. Tia Dóris, a tia solteirona do duque me explicou tudo que uma dama poderia saber sobre meu querido, sim já amado de todo coração duque Willian, ou como diz titia: jovem Will. Que para eu me dar bem na administração da casa eu deveria saber de algumas coisas sobre os homens, primeira: Deveria obedecê-lo em tudo, afinal era Willian que nos dava sustento e proteção do seu respeitado nome. Segunda: Nunca se intrometer nos seus negócios, já que cuidar disso era tarefa exclusivamente masculina; e por último e mais importante: Nunca, jamais perguntar onde os homens e principalmente o duque vai às sextas-feiras a noite. Ela me disse depois de eu insistir muito, que homens tem desejos carnais que precisam serem satisfeitos regularmente para se tornarem dóceis e até manipuláveis em nosso favor. --Um homem satisfeito não tem muitos problemas na vida, consequentemente também não teremos, querida Kat!-- E que eles frequentavam uma certa casa no subúrbio, a casa de Madame Elise e que uma dama não devia jamais mencionar ou perguntar a respeito. Fiquei horrorizada quando ela me explicou o ato em si. Na escola as professoras nos davam o exemplo da cópula animal para termos uma idéia e muitas garotas desmaiaram ante a possibilidade da vida de casada.

Saber que ele desejava e se aliviava com outras mulheres me fez arder de ciúmes. Ele se banhava, fazia a barba, se perfumava com sua colônia de almíscar e saía lá pelas quatro da tarde na sexta e voltava muito depois de todos estarem dormindo. O seu quarto era no lado oposto ao meu, um de frente para o outro,  no amplo corredor cheios de quartos vazios. O quarto de titia era ao lado do meu é claro. Mas quando via os criados subirem com a água quente para encher sua banheira meu coração se entristecia profundamente. E quando ele voltava eu sempre estava acordada e respirava aliviada por ele ter voltado à salvo para casa.
Ele batia levemente na minha porta e entrava por um ou dois minutos e eu sempre fingia dormir. Ele escancarava a porta para os criados não fazerem mexericos, acendia a vela da cabeceira e me olhava encostado na porta velando meu sono, depois dava um beijo em meus cabelos e se retirava em silêncio e nós nunca comentávamos sobre isso pela manhã no desjejum, certamente ele pensava que eu não percebia suas visitas.

Nossa vida entrou em uma rotina agradável, ele nunca estava em casa, sempre ocupado, mas quando estava, como agora, fazia questão de passar uma ou duas horas assim, mesmo ocupado e de longe mas presente, me observando e me sorrindo de vez em quando e eu amava esses momentos. Fiquei feliz dele me dar a administração da sua casa principal em York, onde nós três morávamos com uma ampla criadagem. Assim percebi que não seria mandada para a escola novamente ou para o convento. Eu deveria aproveitar ao máximo esses momentos, afinal um duque não ficaria solteiro para sempre pois precisava de um herdeiro e lindo como é sua futura duquesa pode não querer uma dama órfã e solteira competindo sua atenção em sua casa.
Mas eu precisava focar no agora, não suportaria me separar de sua companhia, nem que fosse para ir para minha própria casa com meu futuro marido. A verdade era que temia morrer se ficasse sem ele. Ele me recebeu de braços abertos, com receio sim, mas quando não tinha obrigação de fazê-lo. Ele poderia ter me deixado lá para apodrecer como muitos pais e tutores fazem, mas me acolheu em seu lar. 

Quando ele viaja por alguns dias ou até algumas semanas ele sempre volta com um presente ou uma lembrança, como esse vestido que me trouxe de Paris. Fiz questão de vesti-lo ao saber que o duque estaria presente. E foi delicioso ver seu meio sorriso de satisfação ao ver que eu usava seu presente nesta manhã. Era uma doce rotina sem muitas surpresas até sexta-feira passada quando ele não saiu para sua visita à casa de Madame Elise. Mas fiquei muito feliz quando veio me ver tarde da noite mesmo não tendo saído de casa. Ele bateu e entrou no quarto de titia, conversou algo e ambos riram, era delicioso ouvi-lo sorrir tão naturalmente. Conversaram por mais alguns minutos e então desejaram boa noite e veio até minha porta. Pude ouvi-lo bater e entrar, andar três passos até a cabeceira e acender a vela, pegar a cadeira da penteadeira e sentar próximo da porta aberta, de modo que se um criado o visse saberia que estava ali com muito respeito. Ele ficou sentado e depois de alguns minutos ele ficou de pé e andou nervosamente pelo quarto, se aproximou da cama e me beijou no rosto. Pude sentir o cheiro de whisky misturado deliciosamente com sua colônia.
--Boa noite, minha querida Kat! Tenha sonhos doces como você...--Sussurrou em meus cabelos e saiu do quarto apagando a vela e batendo a porta.

E desde semana passada algo estava muito errado com meu querido Will, ele não comia direito e eu sempre o flagrava me olhando com olhos tristes e eu daria um dedo da mão direita para saber o que estava tirando seu sossego, algo muito grave ocorria com ele, sem dúvida! Eu me perguntava a todo momento se não precisaríamos chamar o médico, já que em seis meses ele nunca faltou em nenhuma visita à casa de Madame Elise, teve ocasião de ele ir três vezes na mesma semana e agora já fazem quase duas semanas que ele não sai de casa.

Quando comentei com titia Dóris ela riu muito e eu fiquei furiosa, como ela poderia rir de minha preocupação? Eu chorei muito e desabafei com ela, disse que o amava de  todo coração e que não suportava vê-lo sofrer. Titia me consolou, disse que ninguém morre de desejos insatisfeitos e que se ele não se interessava mais em frequentar tal casa, só significava uma coisa, ele estava apaixonado! E me aconselhou jamais confessar meu amor, que era mais seguro para mim esconder tais sentimentos ou o duque poderia até mesmo me mandar embora para a escola ou convento, que o duque jamais se interessaria por uma mocinha como eu. Chorei muito a noite toda. E odiei com todas as minhas forças a mulher por quem ele se apaixonara.

Continua...