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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Nova História (capítulo 3)

Katerinne

Ele estava voltando e eu estava nas nuvens. Demorou algum tempo para ele ser localizado e finalmente voltaria no dia seguinte. Titia nunca me disse o que relatara na carta para o duque e eu não perguntei. Não queria saber, estava nervosa demais com nosso encontro iminente. Minha aparência não era das melhores mas, eu tentaria muito estar apresentável. Olheiras fundas marcavam meus olhos, o rosto estava mais fino e pálido e meu vestido precisou ser ajustado nos dois lados. Certamente se apaixonar não tinha nada de belo como diziam os romances, era tudo sofrimento sem fim, como aprendi na prática.
O duque já era imponente o bastante por ser da realeza mas, na verdade, o que o tornava nobre, além da sua imensa beleza física, era, sem dúvida, a beleza de sua alma. Ajudar a paróquia local com suprimentos para o inverno, era uma das muitas atividades sociais que ele estava envolvido. Titia Dóris me explicou que sem a ajuda do duque, o pároco não teria como alimentar ou abrigar do frio os andarilhos e pedintes.
Tudo era feito de forma discreta, afinal os mais abastados acreditavam que não deviam ajudar ou sequer interferir no modo de vida das pessoas simples e que sua situação era normal. Um absurdo!
Saber de suas enormes virtudes só fez crescer ainda mais meu amor por Will, não sabia que seria possível amar tanto.
Tomei um longo banho de banheira e lavei os cabelos. Escolhi com cuidado uma roupa para o dia seguinte. Uma que o duque tinha me dado no mesmo dia que me trouxera o potro árabe. Um vestido lindo verde, bordado com fios de ouro nas mangas que desciam até o chão. Os padrões bordados nas saias mostravam tulipas entrelaçadas umas nas outras. Um vestido lindo que destacavam meus olhos.
Seria com esse que eu o receberia em casa. Queria deixá-lo satisfeito mas sem  deixar transparecer meus sentimentos, tinha medo de ser mandada embora para a escola ou mesmo para o convento.
Eu seguiria à risca o conselho de titia, amá-lo de longe, porque pelo menos agora estaríamos juntos.
Tudo foi preparado para o dia seguinte, titia fez questão disso. A mansão em estilo gótico foi limpa de alto à baixo, roupas de cama, toalhas e cortinas foram trocadas. Os alimentos preferidos de Will foram comprados na cidade e pré-preparados. Teríamos carne assada, batatas grelhadas e muitas frutas, leite, ovos, suco de frutas, uma infinidade de doces, pudins e geléias e é claro, whisky, seu preferido era um escocês que eu nem sei o nome, com um cheiro delicioso, mas ao abrir a garrafa e respirar o cheiro eu fiquei levemente tonta com o álcool. Uma bebida cara, sem dúvida.
Eu fui para a cama bem tarde da noite e dormi imaginando se levaria uma bronca por tudo o que aconteceu. Afinal de contas o duque era meu guardião legal e responsável por mim. Eu não tinha idéia do que eu falaria para ele já que eu não poderia dizer meus motivos.
Escutei um barulho de carruagem mas pensei que fosse um sonho. Levantei correndo da cama e me enrolei num robe e olhei para fora pela alta janela e vi uma carruagem chegar. Fosse quem fosse estava numa carruagem de aluguel, não dava para saber de quem se tratava, a carruagem era preta e seus ocupantes foram encobertos pela noite e entraram anônimos na mansão. Fui para o corredor e olhei para o enorme relógio de pêndulo no final deste, eram exatamente três da manhã.
O barulho dos criados começou lentamente e logo depois começou a aumentar, cinco minutos depois a casa era uma correria. Titia me encontrou no corredor ainda com trajes de dormir e me mandou voltar para o quarto, eu obedeci prontamente. Semanas de sono irregular cobraram seu preço e eu estava dormindo em pé.
Mas minha curiosidade não me deixava dormir e depois de meia hora rolando na cama eu decidi levantar. Fosse quem fosse era uma inconveniência chegar a essa hora sem avisar na casa de quem quer que fosse. Quando abri a porta dei de cara com titia, ela estava pálida e me gritou.
--Kat querida, apresse-se, o duque chegou e quer vê-la imediatamente! --Ela me empurrou para dentro do quarto. --Desça agora, ele quer vê-la já.
Ela enfatizou a palavra já, que me deu um frio na espinha. Eu fiz sinal de pegar o vestido verde passado e dobrado no encosto da cadeira e ela não permitiu, me puxou pela mão até a porta, Thomas, o servo do duque estava na soleira chamando pelo meu nome.
--Vá, Kat, vá! --Titia tentou me passar uma confiança que ela não sentia dando tapinhas na minha mão entre as suas. Eu me olhei no espelho, com cabelo solto e desgrenhado e com camisola e robe brancos eu parecia um fantasma.
Dei um risinho de nervoso e desci a escada com Thomas logo atrás de mim. Bati na porta de seu escritório e entrei.  Com um aceno ele dispensou Thomas e ficamos sozinhos no imenso cômodo que também era usado como biblioteca. Uma única vela estava acesa sobre a mesa e não iluminava bem o ambiente. O duque estava no lado oposto à luz e não dava para ver seu rosto.
Fiquei de pé esperando que ele dissesse ou fizesse algo. Se passaram alguns minutos e eu podia sentir seus olhos cinzentos sobre mim. Ele ainda estava de roupa de viagem e com a cartola sobre a cabeça, seus cheiros vieram até mim numa mistura deliciosa de sua colônia com seu cheiro incrivelmente bom que era só dele. Ele estava sentado na sua cadeira com os braços em cima da mesa, uma das mãos estava esticada e segurava uma pena, com a outra ele apoiava o queixo num sinal de cansaço. Não podia saber pelo seu rosto envolvido na escuridão o que se passava por sua cabeça. Podia sentir a tensão no ar e meu coração passou de acelerado à descompassado.
--Sente-se Kat. --Eu me assustei com sua voz tão familiar, como eu senti saudade de voz rouca e macia ao mesmo tempo!
Eu me sentei de frente para ele e o duque se curvou sobre a mesa, dando para vê-lo agora perfeitamente sobre a luz.
Ele sorria para mim, mas seus olhos quase negros na pouca luminosidade , como um céu de tempestade, me  olhavam tristes. Seu rosto estava magro e seus lindos olhos estavam com olheiras,  talvez ele adoecera na viagem. Fiquei preocupada com ele. A cartola era preta, assim como sua gravata. O fraque num lindo tom de vinho borgonha que destacava seus olhos e sua tez pálida. Num impulso eu sorri de volta. Ele percebeu algo em meu rosto pois ele puxou minhas mãos entre as suas e as manteve segurando e olhando nos meus olhos.

Dóris

Eu não sabia se tinha tomado a atitude correta. O nervosismo fazia meu estômago se contorcer dolorosamente. Foi arriscado escrever ao duque e contar tudo o que ocorreu. Mas eu devia isso à ele. Ele me trouxe para morar na mansão mesmo não sendo tão chegado à mim. Sempre tive fama de chata por querer tudo em ordem e sabia que Will tendo uma vida tão boêmia, de mulheres, bebida e noitadas, jamais teria me dado a oportunidade de ir "vigia-lo" pessoalmente. Ele nunca fugiu de suas responsabilidades por causa disso, sempre levou bem à serio seu título e posição, era na vida pessoal que ele se excedia as vezes, como se faltasse algo e ele estivesse sempre procurando por algo que o completasse sem nunca encontrar, eu sentia a tristeza da casa e quando Kat chegou tudo mudou para melhor, ele sorria e parecia não tão perdido nos deveres como antes.
Mas ele não teve escolha é claro. Sendo eu irmã de sua mãe e única parente viva e precisando resolver a questão com lady Katerinne, ele se viu livre de dois problemas duma vez. Trouxe para morar em sua casa as duas mulheres que ele devia cuidar, para uma cuidar da outra e eu fiquei apreensiva no início. Por não ter convivido com ele na infância e ele logo ter sido mandado para Oxford eu não sabia que tipo de homem ele havia se tornado.
Mas com surpresa vi que ele era o melhor dos homens, honesto e fiel até a medula,  justo com todos que estavam sobre seus cuidados. Respeitando e cuidando para que tivessem uma boa vida. Cuidava pessoalmente de tudo e de todos, desde o jardineiro até Thomas, seu amigo e aliado, que o ajudava inclusive com o parlamento e suas questões jurídicas.
Zelava pelo bem estar comum e ajudava a caridade em tudo o que podia. Ele não lembrava em nada o pai bruto e sem alma que o antecedeu. O pai havia morrido de tanto beber, batia na duquesa para descontar suas frustrações e pouco depois da morte do duque a duquesa também faleceu, deixando-o sozinho. Ele se tornou um homem admirável e eu me orgulhava por isso. Ele merecia um amor como o de Kat para alegrar sua vida e formar uma família.
Mas não sei como ele reagiu ao ler minha carta. Ele chegou com uma expressão indecifrável no rosto, gritando ordens e mal me cumprimentou. Exigiu a presença de Kat em seu escritório e fechou a porta na minha cara.
Contei tudo o que se passou na sua ausência e falei do imenso amor de Kat, como ela sofreu e ela no entanto não sabia disso. Eu só orava baixinho, torcendo para que se acertassem. Eles formariam um lindo casal e fiquei pensando em como seria bom ter crianças correndo pela casa com lindos olhos verdes ou cinzentos, dependendo da vontade de Deus.

Willian

Ela estava linda. Incrivelmente bela apesar de todo seu excesso. Seu belo rosto estava mais fino e sua cintura, ainda mais fina. Ela sofreu como eu. Fiquei observando suas mãos apertar a camisola nas laterais do corpo. Ela estava nervosa e isso era bom porquê eu também estava.
A camisola branca de seda delineava seu corpo como uma segunda pele. Mostrava sutilmente seus quadris curvilíneos e descia até seus pés descalços. Deviam estar frios no piso gelado de pedra, mas ela parecia não se importar.
Seus seios fartos subiam e desciam com sua respiração entrecortada e só então pedi que se sentasse. Tinha medo que ela desmaiasse ou algo do tipo.
Eu fiquei observando- a na semi escuridão do escritório e meu coração se encheu de amor por ela. Como ela poderia me amar? Tão mais velho e devasso, certamente não era o melhor candidato à marido.
Tinha certeza que titia havia contado tudo sobre mim. Flagrara as duas conversando na cozinha à respeito da casa de madame Elise. O que estaria pensando? Que eu era um degenerado sem dúvida! Para chegar no meio da noite e arrastá-la para a biblioteca e sem dizer coisa alguma.
Num ímpeto puxei suas mãos e as prendi entre as minhas sobre a mesa. Queria contar o que estava acontecendo, e que Deus me ajudasse.
--Kat... eu...--As palavras não vinham, eu tinha um nó no estômago, talvez ela me achasse precipitado.-- Ela esperava que eu dissesse mais alguma coisa e de repente seus lindos olhos verdes começaram a se encher de lágrimas e eu me segurei para não chorar junto. Me doia profundamente o seu pesar.
--Eu quero que assine esse documento e então seremos marido e mulher, quer ser minha duquesa?

--Disse de uma vez só e então engoli o nó na garganta e tentando parecer calmo soltei suas mãos e retirei um grosso papel dobrado de dentro do bolso da camisa que usava por baixo do fraque e o coloquei sobre a mesa. Era o contrato de casamento providenciado por Thomas, a partir daquele dia ela realmente pertenceria à mim de fato e de verdade, e se Deus ajudasse, em breve de corpo e alma!
 Ela me olhava com olhos arregalados e de boca aberta. Segurei o papel e tentei desamassá-lo sem tirar os olhos do rosto dela. Seu rosto se iluminou como um céu depois de passada a tempestade.
--Senhor, me diz que não é um sonho, que não estou louca finalmente, afinal quase enlouqueci nos últimos tempos, por favor...-- Fiquei em pé e dei a volta na mesa para fazê-la ficar em pé, mas suas pernas tremiam tanto que a fiz se sentar novamente ficando eu de joelhos para ficar quase igual nossa altura, nossos rostos à centímetros um do outro.
--É claro que é um sonho meu anjo, só que um sonho que se torna realidade hoje, se você me aceitar, é claro, por favor diga que ao menos vai pensar no assunto? --Minha insegurança e medo podiam ser sentidos no tom da minha voz, é claro que ela podia me recusar, mas eu morreria só de pensar na possibilidade, e ela então sorriu, o riso mais delicioso, aquele que me enchia de desejo e antecipação, e me abraçou tão apertado que eu mal consegui respirar. Ficamos bons minutos abraçados ouvindo as batidas aceleradas de nossos corações em uníssono, temendo que fosse de fato um sonho e que quando acordássemos, estaríamos de volta à nossas miseráveis vidas de solidão anteriores.

Quando nos afastamos eu segurava suas mãos, ainda muito próximos um do outro, ela timidamente olhou para meu lábios, em um convite mudo para um beijo, então me aproximei com minha boca e gentilmente arrebatei seus lábios em um beijo suave, não queria assustá-la com todo meu ardor masculino, queria que tudo fosse suave e prazeroso para ambos... Mas não no chão da biblioteca! Quando fui me afastando ela me olhou indignada e me enlaçou pelo pescoço e me beijou com toda a sua força, num beijo tão delicioso quanto quente, que quase me levou ao êxtase, sua língua timidamente penetrou minha boca e se entrelaçou na minha, num beijo que prometia muito mais. Uma batida suave na porta nos trouxe de volta a realidade. Com dificuldade e a respiração entrecortada, separamos nossas bocas.
--Agora não, quando precisar de algo eu chamarei! --Minha voz autoritária a assustou, ambos rimos e nos colocamos de pé.
--Por favor me diga que aceita ser a duquesa e minha esposa, eu não suporto mais esperar...--Ela riu e ficando nas pontas dos pés beijou meus lábios e se abraçou a minha cintura encostando sua linda cabeça em meu peito.
--Claro que aceito Will, nada no mundo me faria mais feliz, podemos assinar logo? Quero te beijar mais e não parece certo fazer isso sem ser de fato sua esposa. Ela ainda abraçada à mim me olhou nos olhos, seus lindos olhos verdes faiscavam, prometendo muito, muito mais...


Continua...





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