(Cap 13) Recomeçar
Meu coração martelava nos meus ouvidos, quanto mais adiavam as "núpcias", mais meu pânico aumentava.Depois do mergulho, fomos separados de quarto e enquanto não terminar os rituais do casamento não dormiremos juntos.
Niga foi pra uma espécie de despedida de solteiro no deserto. Mas tudo muito radical, nada de mulheres! Consistia em caçar cobras no deserto, eca! Existe gosto pra tudo nesse mundo! Os melhores amigos dele foram, uma tropa de vinte ou mais, voltariam no final da noite.
Eu daria qualquer coisa pra me distrair, pensar em outra coisa.
Eu aprendia cada vez mais sobre eles, sua rica cultura e língua. As aulas começavam logo depois do café da manhã e se estendiam até a noite. A noite eu estava cansada demais pra pensar em qualquer coisa, e não tínhamos ficado à sós pra conversarmos sobre o jantar, péssimo jeito de começar um casamento! As frases que aprendi primeiro foram: Eu amo você, Hai tee co mone! Estou com fome: Ledi che camú, as outras já esqueci.
No segundo dia após o mergulho, nos encontramos nos preparativos do segundo ritual de casamento, esse consistia em comer e beber no mesmo prato e copo as comidas especiais pra ocasião. Eles levam muito a sério a coisa de "se tornar apenas um", só de sentir o cheiro já me fez enjoar, o que quer que fosse cheirava como fígado e eu odiava fígado.
Todos bem vestidos e também comiam no amplo salão oval, o mesmo onde me informaram que eu me casaria para selar a paz. Todos nos sentamos e então todos conversavam e olhavam pra nós sentados no meio do salão. Era como estar num restaurante, todos pareciam se divertir.
Niga chegou e vestia preto dessa vez, os cabelos trançados lindamente no estilo viking, a cor do meu vestido tambem era preto, já os convidados vestiam branco. Nós dois eramos dois pontos negros na imensidão de branco. Eu ficava imaginando que, quem quer que fosse que escolhesse os trajes, devia se divertir com o contraste de cores.
Niga se sentou e eu também, um ao lado do outro. O prato era enorme e a taça também, o material transparente e furta-cor do prato e taça não era desse mundo, parecia que tinha uma galáxia dentro deles. Ele me olhava do mesmo jeito estranho de sempre, não teve nem um cumprimento, nada.
Ele se levantou e abriu as travessas dispostas na mesa e me oferecia com uma falsa cortesia. Me irritou só até eu perceber que ele sorria com o canto dos lábios, parecia querer aliviar a tensão. Eu me quebraria ao meio se ficasse mais tensa.
Eu agradeci e deixei que ele escolhesse o que comeríamos.
Todos os presentes, humanos ou não, nós observavam atentamente.
Ele fatiou uma ave e colocou no imenso prato, sentou-se com a cadeira levemente na diagonal, para comermos quase de frente um para o outro.
Eu olhei pro prato e fiquei feliz com a ave e tomates dispostos no prato, nada vivo e nenhum cheiro desagradável. Ele fatiou a carne e me olhava atentamente, colocou a carne na boca, mastigou e engoliu. Espetou a carne e me ofereceu na boca fazendo aviãozinho. Eu fiquei parada olhando indignada pra mão dele suspensa no ar.
-Por favor? -Desse jeito eles vão pensar que você me odeia e a toda minha gente! -O sarcasmo implícito na voz serena.
-Eu posso comer sozinha!- Retruquei calmamente para não fazer cena.
-É apenas galinha, todos estão olhando, abra a boca, por favor?
Abri a boca e peguei o pedaço de galinha e mastiguei silenciosamente e engoli. Niga me olhava o tempo todo e eu não conseguia raciocinar. Era um pedaço atrás do outro e eu quase não tinha tempo de respirar.
-Algo para beber por favor? -Pedi segurando seu pulso antes de ele me enfiar mais galinha goela a dentro.
-Claro!- Ele pegou a garrafa reluzente e despejou o líquido transparente dentro da taça enorme. Trouxe até minhas mãos e colocou minhas mãos na base da taça e me ajudou a erguer até meus lábios.
Quando bebi a bebida deliciosa me engasguei, tossi e recuperei a compostura antes de beber mais. Niga me olhava divertido e parecia prestes à me acudir e eu o acalmei segurando na sua mão enquanto tossia, para que ele não levantasse e fizesse qualquer coisa que estivesse em mente, como me chacoalhar ou sei lá...
Quando meu fôlego voltou ao normal, eu tinha lágrimas nos olhos e meu rosto ardia de vergonha. Soltei a mão dele quando notei que eu ainda apertava fortemente seus dedos. Ele pareceu nem notar, a sua mão esquerda continuou estendida em minha direção.
-Beba mais um pouco para acalmar sua garganta.-Ele ofereceu.
-Daqui a pouco eu bebo, vou esperar todos que estão me olhando, cuidarem de suas vidas! -Ri sem graça. Eu era péssima fazendo piadas.
-Nós sempre seremos motivos de especulação, afinal somos nós que mantemos todos unidos. -Ele me disse e sorriu sem graça, parecia que era a primeira vez que conversávamos.
E de fato era a primeira vez que eu não estava com o cérebro corrompido com remédios e drogas e ele também parecia sóbrio.
Eu não queria quebrar a camaradagem e procurei por alguma coisa na minha mente para conversar.
-Como foi? Pegou muitas cobras?- Ele parou no meio da mastigada e me olhou sem entender, depois sorriu e engoliu.
-Sim, algumas. -Bebeu da taça, deixando-a quase pela metade. A bebida era deliciosa e tinha gosto de limão, parecia um champagne.
Eu continuei a encará-lo, eu queria saber mais.
Ele me olhou e mordeu um tomatinho, suco escorreu pelo seu queixo perfeito.
-Aqui, pegue. -Ofereci o guardanapo. Ele pegou e limpou o queixo olhando fixamente para mim.
-O que sua mente curiosa quer saber? -Ele perguntou divertido.
-Tudo...tudo que quiser me contar. -Falei pegando uma nectarina e mordendo.
-Fomos ao deserto com esses carros da areia, quando chegamos um dos carros ficou preso na areia e começou a afundar, Midal ficou apavorado quando afundava e nós não conseguíamos ajudá-lo porque era muito engraçado, se ele parasse de gritar ele veria que ele poderia sair de lá andando!-Ele gargalhou lembrando e a risada era tão contagiante que ri também.
Olhei em volta e só então notei que muitos já tinham deixado o salão, pareciam satisfeitos com o que quer que estavam vendo. Fiquei feliz em saber que podíamos conversar a pesar de tudo. Não tocamos no assunto do jantar e eu fiquei satisfeita por não provocar sua ira. Ele parecia um garoto, relaxado, comendo e bebendo.
Eu não queria estragar o clima, já que tinhamos uma vida toda pela frente poderíamos tentar pelo menos.
Quando estávamos sozinhos no imenso salão ele se levantou e me ergueu pela mão também.
-Está satisfeita? Ele me olhava nos olhos com o olhar divertido como esteve durante todo o jantar.
-Si-sim. Gaguejei.
-Ótimo! Vamos? ele me olhava esperançoso, como se temesse que eu recusasse.
-Sim, pra onde? Ele me puxou pela mão e corria sem parar, parou em frente uma sala trancada e eu já estava totalmente sem fôlego e pelo jeito que subimos sem parar, tinha quase certeza que estávamos no telhado.
-Onde estamos? Perguntei enquanto ele destrancava a porta e entrava, entrei em seguida.
-No meu lugar preferido nesse mundo. -Ele me disse e seu semblante ficou triste.
-Você quer me mostrar? -Eu perguntei e seu rosto se iluminou novamente.
-Sim, vou te mostrar. -Ele apagou a luz e a parede se moveu e a vista era impressionante, de tirar o fôlego.
Dalí era possível ver a fortaleza toda abaixo de nós, e no horizonte a cidade pequenininha.
-Nossa! -Eu disse olhando pelo vidro todo o palácio abaixo de nós.
-Sim, nossa! -Ele riu sem graça.- Eu venho aqui quando quero ficar sozinho, quando tenho saudades de casa.
O telhado se moveu e um imenso telescópio apareceu apontando para o céu azul.
-Venha ver meu lar. -Ele me chamou sentando na poltrona de observação.
Eu andei até ele e ele me sentou em seu colo.
-Olhe entre a constelação de Órion. -Ele me segurava na cintura, seu corpo era deliciosamente quente, contrastando com minha pele fria da noite.
Eu busquei a constelação que ele me disse e esperei que focasse. Assustei quando vi a estrela meio apagada perdida entre as outras estrelas. Eu a reconheci do objeto estranho do quarto de Niga, aquele que projetou a imagem na parede.
Levantei de seu colo e fiquei olhando pra ele. Seu olhar estava tão triste que meu coração doeu por ele.
-Daria tudo pra voltar pra lá, mas é impossível! Tudo que vivia lá agora está morto, conforme a estrela se apaga, o planeta morre lentamente. E então uma lágrima escorreu teimosa em sua linda face.
Ele continuou sentado sem me olhar.
-Esse é seu lar agora, você está em casa. -Eu me impressionei com a verdade daquelas palavras. Tudo que eu queria era viver em paz com ele e com os outros de sua espécie.
Eu já tinha perdoado ele a muito tempo, só agora conseguia perceber isso. Talvez era por isso que eu não me sentia bem perto dele, eu gostaria que ele soubesse. No fundo sempre quis que ele soubesse disso.
Pensei em tudo que me aconteceu e então me dei conta que tudo, a guerra, as mortes, era consequência dos erros humanos.
E até minhas perdas tinham a ver com erros estupidamente humanos.
Não podia culpá-lo eternamente por minhas frustrações.
-Ele me olhou com lágrimas nos lindos olhos e então me puxou e me abraçou, assim sentado e eu em pé.
Chorou e soloçou por longos minutos. Eu chorava baixinho também abraçando e afagando sua cabeça.
Quando ele abriu os olhos as chamas estavam lá, ameaçadoras. Mas pela primeira vez não tive medo. Era apenas alguém que também sofria, como eu.
Choramos por tudo, até a cabeça doer. Quando nos acalmamos ele olhou para o chão constrangido.
Se afastou um pouco e saiu do me abraço. Eu sentei no seu lugar ainda quente e fiquei esperando que ele me dissesse algo.
Ele se virou pra mim, seus olhos azuis vermelhos e um canto da boca estava erguido num meio sorriso.
-Arrunei seu vestido- Ele me disse apontando para meu colo encharcado.
-Tudo bem, seu penteado já era também. -Apontei para seu cabelo desarrumado e sorri.
Rimos feito bobos.
Ele se aproximou e pegou em minhas mãos.
-Me perdoe por tudo, pra começar por sequestrar você... -Eu coloquei a mão nos seus lábios calando-o.
-Está perdoado pelo sequestro, as outras coisas você não é culpado.
Ele sorriu.
-Começamos errado, minha raça e a sua.- Quando disse isso um imenso alívio tomou conta de mim, era a pura verdade.
-Não podemos apagar a guerra e nem a rixa entre nosso povo... -Foi a vez dele me calar.
-Mas podemos recomeçar, eu e você? -Era uma pergunta.
-Sim, vamos recomeçar!
Ele me olhou nos olhos e soltou minhas mãos.
-Amigos? Ele perguntou novamente.
-Amigos, claro.-Apertei sua mão estendida e então fizemos o caminho de volta, devagar dessa vez.
Ele me levou até a porta do nosso quarto e se despediu, virou as costas e foi desmanchando a longa trança, olhei até ele sumir no longo corredor.
Então entrei, tomei banho e dormi, pela primeira vez um sono reparador.
Continua...
Meuu Deuxxx! Escritora entao!? Eu nao sabia. Que legal menina! Amei a proposta. Eu tb sou blogueira e amo qdo minhas amigas youtubers são blogueiras tb... como faço para me inscrever aqui? Amiga visita meu blog e se inscreve.... Assim, vamos nos ajudando e nos seguindo... beijinhos e boa sorte! =))
ResponderExcluirClaro amiga, vou já te seguir, aí vc me segue de volta! Adorei ver vc por aqui, beijos no coração!
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