(Cap 10) Estrela Peculiar
Faltando dez dias para a cerimônia começaram a chegar diversos presentes. Capitães, soldados, humanos também, enviavam uma série de presentes. Coisas úteis como roupas frescas, velas perfumadas, cortinas brancas, prendedores de cabelo com pedras preciosas, lençóis bordados, ventiladores, coisas que lotavam a minha cela. Coisas estranhas também chegaram, como por exemplo, um monte de ossinhos num saquinho, que quando abri, quase morri de susto e joguei longe.Eu abria cada um e matava a curiosidade e depois abandonava-os aonde quer que caíssem.
Na manhã seguinte fui informada de que eu estava mudando de aposento. Parecia que não era mais adequado uma pessoa da minha importância ainda morar numa cela. Me levaram vários andares acima, numa ala restrita e bem mais espaçosa. O branco predominava também, mas era possível notar o luxo do ambiente, semelhante aos salões do Alto Comando.
Fui levada até um quarto no fim do corredor, a porta grande foi aberta e eu levada pra dentro com um batalhão que arrumou minhas coisas rapidamente. Tudo foi arrumado no guarda roupas e nas cômodas dispostas na longa parede branca.
Saíram na mesma rapidez que entraram fechando a porta em seguida. fui testá-la só pra ter certeza e ri. Totalmente trancada. Parecia que eu não poderia ficar explorando por ali.
Depois de tomar banho e me secar, vesti uma longa camisola de seda branca, tinha vindo junto com os presentes de casamento e eu me vi alisando o tecido suave. Era tão bom estar longe da cela pequena que sorri sozinha. Olhei meu reflexo no espelho e notei as bochechas levemente rosadas. A minha saúde estava totalmente recuperada graças a bebida verde que me faziam beber todo dia pela manhã. O fluxo de sangue não voltara mais e a dor na região intima tinha sumido por completo, como se eu nunca tivesse perdido uma criança e algo me dizia que meu fluxo não voltaria mesmo depois do casamento. Meus cabelos brilhavam e tinham recuperado o brilho e maciez. Na pressa de procurar um pente pros meus cabelos, fui abrindo todas as gavetas e me deparei com aquele mesmo saquinho horripilante de ossos novamente. Gritei apavorada e joguei em cima da enorme cama.
Decidi procurar no banheiro e fui abrindo as gavetas do armário de toalhas. Ele estava cheio de coisas estranhas como um vidro cheio de minúsculas borboletas vivas, um livro preto escrito muitas coisas numa escrita impossível de decifrar, um cilindro que brilhava como uma lanterna que ao tocar, projetava a imagem de várias estrelas lindas e coloridas, umas brilhavam distantes demais, outras tinham uma névoa rosada que as envolviam e pareciam dançar na parede branca, mas uma chamou a minha atenção particularmente. Ela não brilhava como as outras, ela tinha um brilho azul fraco como se a qualquer mmomento fosse se apagar, fiquei triste por ela.
Resolvi guardá-lo no mesmo lugar que havia pegado, fosse de quem quer que fosse esse quarto, ele não gostaria de ser bisbilhotado.
Penteei meus cabelos e caí na cama, não tinha nem escurecido mas me deixei levar pelo cansaço.
Quando acordei percebi mais alguém no quarto e me assustei.
-Quem está aí?- Perguntei sentando rapidamente na cama fazendo minha cabeça girar. Caí pra trás e fiquei esperando a tontura passar. -Deveria ter dormido menos, disse pra mim mesma.- A lua já estava alta no céu vista pela enorme janela.
Quando levantei novamente, notei o saquinho de ossos dispostos no meu criado mudo e me encolhi.
Cambaleei fora da cama e a sombra perto da parede se moveu.
Eu estava frente a frente com meu noivo. Ele me olhava de um jeito diferente, talvez cansaço.
-O que faz em meu quarto? Ele riu.
-O que é tão engraçado? Ele cruzou os braços e se sentou na cama.
-Me diga você, esse é o meu quarto!
-O quê? Ele riu de novo.
-Parece que dormiremos aqui a partir de hoje, não crie caso, estou cansado!
Ele disse retirando as botas e colocando-as cuidadosamente no chão.
Eu fiquei parada olhando-o como tinha rapidez em fazer tudo oque se propunha a fazer. Percebi que encarava descaradamente e fiquei constrangida.
Ele virou de frente para mim e me olhou com um olhar estranho que me deu medo. -Não precisa ficar parada aí, pode se deitar se quiser! -Ele disse ríspido.
-Nã-não, obrigada!- Gaguejei.
Ele se aproximou e me sentou na cama com firmeza.
-Só tem uma cama que teremos que dividir, queremos ou não! Eu não mato você desde que você não tente me matar enquanto durmo, e não tente nada estúpido com sua mente estúpida ou vai se arrepender mui-tis-si-mo! -Ele soletrou a última palavra e duas chamas brilharam assustadoramente nos seus olhos.
Eu congelei na posição que estava e ele ficou me olhando impaciente.
-O que quer de mim? -Perguntei segurando o choro.
-Você não disse que compreendeu...
-Eu com-pre-en-di! -Retruquei.
-Ótimo!- Ele me disse deitando na cama de bruços e dormindo logo em seguida.
Podia escutá-lo ressonar tranquilo e pausadamente, o que indicava que dormia profundamente. De vez em quando ele dizia algo ininteligível naquela língua estranha, como se sonhasse com alguma coisa. Uma coisa boa, porque ele sorria e se mexia muito na enorme cama.O riso desfazia a carranca habitual e mostrava os traços perfeitos do rosto bonito. Um rosto lindo e suave, como de um garoto. As vezes eu me esquecia que ele também é jovem, da minha idade, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos, mas assim como eu, um escravo do dever.
Resolvi me deitar na beirada da cama para não incomodá-lo e acabei adormecendo e sonhando com estrelas e uma com uma luz diferente e peculiar.
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