(Cap 09) "Reconquista"
Minha cabeça estava um turbilhão, eu não conseguia raciocinar, não sabia nada de meu "noivo" e isso me apavorava ainda mais. Ele continuava sendo assustador, representa tudo que perdi até agora, e me imaginar me unindo com ele em uma união como o casamento, faz meu estomago revirar. Era difícil saber o que se passava na cabeça dele: Surpresa, raiva, talvez ele me odiasse tambem, o que não será nada fácil pra nós dois. E imaginar que nossos corpos se encontrarão, nus, na mesma cama, me faz arrepiar, e não de um jeito bom. Nunca me imaginei com outro homem que não fosse Diogo meu marido, ele era tudo pra mim, tudo que eu precisava e ansiava. Era ele que fazia meu coração acelerar com um beijo... E imaginar que nunca mais vou vê-lo, faz meu coração em estilhaços, falhar perigosamente. Talvez eu morra na cerimonia, e imaginar a situação me faz rir; tanto esforço da parte deles pra terminar assim, por uma fatalidade do destino, não deixa de ser engraçado, de um jeito totalmente mórbido!Eu continuei minha rotina diária por uma semana, acordar, tomar banho, comer, beber, caminhar. Nenhuma palavra dele, nenhuma visita, nada. Eu não sei o que realmente queria que ele fizesse. Muita coisa depende de nós dois e ele parece não se importar. E a angústia de não saber o que se passa na cabeça dele me corrói por dentro. Talvez devesse confrontá-lo, perguntar diretamente, mas me sobra covardia e me falta juízo! Não saberia dizer qual seria sua reação, talvez me xingasse, ou talvez me atirasse pela cela pra me arrebentar no piso dezesseis andares abaixo. Ninguem jamais saberia, ele diria apenas que não suportei a dor, que fui vencida pelas perdas recentes. Ninguém ousaria questioná-lo, ninguem choraria por mim.
Mandei vários recados informais, pedi e implorei que falassem com ele, que ele viesse me ver, mas nada! Nenhum bilhete, nenhuma palavra.
O que quer passasse pela cabeça dele, pelo jeito, eu só saberia quando ele quisesse.
Tudo estava muito bem, os humanos já tinham direito de ir e vir, tropas e mais tropas aliens patrulhavam dia e noite todo o território e o deserto também. Por causa da aliança, eles estavam ensinando sua tecnologia e conhecimento para os humanos, não que fossem mais avançadas, simplesmente por ser diferente.
Eles também aprendiam conosco muitas coisas, como por exemplo a relaxar, já era possível passar por eles e vê-los com aquelas chamas assustadoras nos olhos e rindo.
Casas tinham sido reconstruídas, tudo indo bem demais, mas em troca, todo homem em idade produtiva deveria se apresentar ao exercito, ambos os lados formariam um único exercito, eles estavam se fortalecendo, unindo forças. Nas escolas, crianças alienígenas começavam a estudar com as crianças humanas, na verdade dava pra perceber perfeitamente o que eles estão fazendo. Estão aprendendo tudo o que podem sobre nós, em todas as idades e fases da vida. E isso é muito inteligente, conhecer as forças e principalmente as fraquezas dos inimigos. Eles não querem ser pegos de surpresa em nada, eles querem antecipar qualquer coisa que leve a uma rebelião, a uma "reconquista". Nos hospitais muita gente foi beneficiada por sua medicina quase milagrosa.
Não tinha sentido falta dos bebês deles até eles aparecerem.
Vieram numa nave diretamente pra dentro da fortaleza, com guardas muito bem armados. Vi alguns pais reencontrando seus bebês e não pude deixar de achar fofo! Alguns esperavam com um buquê de rosas minúsculas amarelas e acenavam pra eles antes de desembarcarem. Outros esperaram até estar fora de vista dos curiosos pra correrem pra eles e pegá-los no colo como qualquer humano faria. Uma cena linda que ficou na minha mente o dia todo.
Adormeci com lindos rostinhos rosados com olhos assustadores povoando meus pensamentos.
Sonhei que embalava um bebê com uma linda canção de ninar mas não adiantava, ele continuava a chorar muitíssimo. Meu coração doía, tinha pena do pequeno, o que o deixava tão triste? Eu daria a ele qualquer coisa pra fazê-lo feliz! Levantei ele no colo, e ele abriu os olhos e respirou fundo, finalmente tinha se acalmado! Eu comecei a dizer coisas bobas a ele e elogiá-lo, dizendo como era lindo, gordo e como cheirava tão bem, ele sorria e babava mordendo sua pequena mão rechonchuda. De repente seus olhos começaram a brilhar e ele começou a chorar novamente; uma pequena chama brilhava e me assustou, quase derrubando-o. Eu tinha medo sim, mas meu amor por ele era maior e então comecei a cantar novamente e ele foi se acalmando até que dormiu.
Era meu filho, eu podia sentir isso, meu filho alien...
Acordei suada, tremendo, ainda cantarolando a canção mentalmente.
Quando desisti de falar com ele, ele resolveu aparecer. Ele trajava roupas diferentes agora, o traje branco tinha sido trocado por um preto, e me fazia lembrar de uniforme de piloto de formula um sem aquelas propagandas. Os cabelos estavam limpos e dividos com um coque no alto da cabeça e o resto solto nas costas. Suas botas eram as mesmas de sempre. Ele cheirava a limpeza e algo mais impossível de decifrar.
Ele continuava parado me olhando e eu comecei a me revoltar, ele me olhava como se eu fosse culpada por tudo... Como eu o odiava!
Notei também que sua espada também sumira, ele não precisava mais dela, afinal tinha ganhado a guerra.
Resolvi começar do começo. -Eu, eu...
-Fale duma vez!- Ele falou impaciente.
-Eu...- Eu estava pensando o que dizer, agora que o via parado na minha frente, parecia que todas as palavras tinha sumido.
-Sim, você!-Ele respondeu ríspido.
-O que vamos fazer? Não podemos...
-Sim, podemos e iremos!
-Seria melhor...-Tentei dizer.
-Os humanos nunca sabem o que é melhor pra eles! -Ele disse se aproximando de mim devagar, segurou meu queixo e me olhou diretamente nos olhos. Apesar do toque gentil eu podia sentir sua mão tremer, como se tentasse controlá-la para não me machucar.
-Nós obedecemos, não fugimos por razões egoístas! -Ele disse e me soltou virando as costas pra mim. Deu passadas longas até a porta, parou e virou novamente pra mim.
-Teremos duas celebrações e viveremos juntos, pelo bem de todos.-Ele enfatizou as últimas palavras.
Fiquei ali parada e zonza, sem saber o que fazer dalí pra frente.
Continua...
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