(Cap 06) Um pequeno pedaço de felicidade!
Continuei andando com os olhares de todos e me senti extremamente constrangida. Andei aos tropeços, escoltada por duas de suas mulheres, de vez em quando elas me colocavam em pé e praticamente me carregaram de volta a minha cela.
Quando entrei na cela, meu desjejum me aguardava numa bandeja em cima da cama. Ataquei com vontade o leite, bebi tudo de uma vez, comi o pão esquisito em três dentadas. Deixei a maçã por último já que seria o único doce que receberia.
-Um pequeno pedaço de felicidade! -Repeti a frase que minha mãe sempre me dizia antes de me entregar um doce ou um chocolate.
Na minha pressa em comer nem reparei que o campo de força havia sido removido novamente e lá fora, na sacada, meu maior pesadelo me observava. E meu coração falhou uma batida.
Não sabia o que fazer, se continuava ali, ou se ia ao seu encontro. A verdade é que ele estava ali para me dizer algo, eu podia sentir, e qualquer assunto que fosse, não o deixava feliz. Sua postura exalava arrogância, e também uma raiva mal contida.
Como não fiz nada pra me aproximar e só fiquei olhando como uma idiota, ele se aproximou lentamente com os olhos fixos na parede de pedra atrás de mim, como se evitasse me olhar. Ele parou, coçou o queixo e me olhou diretamente pra mim.
-Seu marido e pai estão mortos, eles tentaram invadir a Fortaleza em um ataque estúpido e mal calculado.
Meu choque foi visível em meu rosto, porque ele estendeu a mão para me amparar antes que eu caísse, mas sua mão ficou suspensa no ar e eu não vi mais nada, quando acordei eu estava deitada na minha cama e um monte de gente estava com os olhos fixos em mim e se afastaram educadamente quando abri os olhos.
A dor que senti, da perda definitiva, me assolava e meu coração já partido, estilhaçou, chorei convulsivamente, nem me importei de estar rodeada por eles, dei vasão a minha dor, minha alma chorava...
Agora estava acabado, não havia mais ninguém a quem voltar, ninguém pra se lembrar do meu cativeiro, ninguém a quem chamar... Sozinha no mundo, rodeada por pessoas de outro mundo que me olhavam perplexos.
Fiquei de pé e me lembrei dos culpados por toda dor e sofrimento que eu estava sentindo, e lá estavam eles, na minha frente. Pulei no primeiro que vi e tentei estrangula-lo. Fui contida sem violência mas com firmeza, tentavam me colocar na cama e eu gritava e esperneava e chorava, tudo que consiguia dizer era a coisa que martelava na minha mente: -Assassinos! Assassinos! Então uma pontada no meu baixo ventre me fez parar, algumas mãos me levaram para o hospital e tudo que eu podia fazer era rezar.
-Senhor, poupe meu bebê, ele não, ele nãaaaaaaaoooooo! E então tudo escureceu, minha mente se refugiando na inconsciência!
Não sei quanto tempo se passou, eu sentia uma dor rasgar meu ventre e podia sentir o sangue saindo de dentro de mim, sabia que meu filho não existia mais, ele não teve o direito de nascer, sua vida interrompida brutalmente iria sempre me assombrar.
Eles iam e viam perto de mim, conversavam e de vez em quando me olhavam, eu observava como se fosse outra pessoa, telespectadora da minha própria vida. Anestesiada e imune a todos ao redor. Como se nada mais importasse, meu coração morreu ali, esvaiu junto com o sangue do meu filho de dentro de mim!
Continua...
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